Retroview: Hokuto no Ken – You wa Shock!

“Você já está morto” – Kenshiro
Akira é famoso não só por ser um marco da animação japonesa, mas também por ter chocado os espectadores dos cinemas pelo seu alto nível de violência. Mas antes dele, havia um outro anime que chocou igualmente o público na TV e que se tornaria uma referência para os animes de pancadaria que sairiam futuramente e a base para o que mais tarde se tornaria o seinen. Estou falando de Hokuto no Ken.
Inicialmente um mangá criado por Yoshiyuki Okamura (que assina pelo pseudônimo de Buronson por ser um grande fã de Charles Bronson) no roteiro e por Tetsuo Hara na arte ,que saiu na Shounen Jump entre 1983 e 88, totalizando 245 capítulos, Hokuto no Ken (Punho da Estrela do Norte, em uma tradução livre) é um anime feito pela Toei Animation e veiculado na TV entre 84 e 86, totalizando 109 episódios (e dois filmes resumo) no total e que fez bastante sucesso, apesar de seu alto grau de violência, fazendo-o ser bastante censurado. Por causa de seu sucesso, a série acabou gerando uma continuação com 43 episódios, um OVA mediano que é a continuação da continuação, duas séries spin-offs (uma horrível e outra que compensava a arte com uma história muito bem feita), uma série de 5 filmes intitulada “A Nova Lenda do Salvador”, que conta a história a partir de um ponto de vista diferente, uma porrada de jogos para uma outra porrada de consoles e uma adaptação americana que já foi veiculada por aqui e que dispensa comentários.
A história de HNK se passa em 199X, onde uma guerra nuclear fez a Terra virar um deserto enorme, transformando o simples ato de obter alimento em uma luta pela sobrevivência, e dividindo a sociedade em duas partes: aquelas pessoas que escravizam os seres mais fracos e os submetem às vontades deles e aqueles que ou obedecem às ordens dos mais fortes e sofrem calados ou morrem. E é nesse contexto que surge Kenshiro, o 64º sucessor do Hokuto Shinken ( uma arte milenar de assassinato que age baseada na pressão de diferentes pontos vitais localizados no corpo e que possui diferentes efeitos dependendo da força na qual a pressão é aplicada, ativando propriedades curativas do ponto ou ocasionando em paralisia ou implosão parcial ou total do corpo da vítima), que decide vagar por essa terra desolada, junto das crianças Lynn (uma garota frágil que nutre uma espécie de paixão platônica por Kenshiro) e Bart ( um malandro de bom coração), inicialmente à procura de sua amada Yuria (raptada por Shin, antigo amigo dele), para libertar as pessoas da tirania imposta pelos mais fortes, o que deu a ele o título de “Salvador do fim do século”.
Uma coisa a ser ressaltada no anime é que ele pode ser dividido em duas partes: a primeira, que é o famoso shounen de pancadaria, com uma situação sendo resolvida dentro do mesmo episódio no qual ela é apresentada (recurso famoso nos desenhos ocidentais dessa mesma época) e com a busca de Kenshiro por sua amada, que dura os primeiros 22 episódios; e a segunda, que é a parte mais adulta, desenvolvida e lembrada pelos fãs da obra, que se passa logo após o trágico término da busca de Kenshiro (apesar de ser bem antigo, não vou falar para não dar spoiler), que agora decide vagar pelo mundo ajudando os fracos e oprimidos enquanto procura dar um fim aos reinos de tirania existentes, englobando os outros 87 episódios.
É possível notar que a primeira parte serve meio como uma introdução ao mundo de HNK porque ela é mais focada nos combates do que na história, mostrando o estado lastimável no qual o mundo se encontra e o poder absurdo do Hokuto Shinken, os seus usos práticos e as suas técnicas feitas para dar uma morte horrível e dolorosa para os inimigos. Já a segunda parte é um pouco mais focada na história, se aprofundando na relação entre o Hokuto Shinken e o Nanto Seiken (algo como o “Punho da Estrela do Sul”, a contraparte cortante da arte de Hokuto) apresentando personagens que ganham carisma com as suas histórias pessoais que acabam se cruzando de alguma forma ou outra (que vai do típico “minha irmã foi sequestrada” até ao “vou construir uma pirâmide usando crianças como mão-de-obra para simbolizar o meu amor pelo meu mestre”), dando motivações pessoais para cada um e consequentemente enriquecendo a obra, deixando-a mais interessante.
Já a arte do anime não se pode dizer a mesma coisa, porque alguns personagens, em sua maioria inimigos, são meio mal desenhados e alguns desenhos (não só de personagens mas também de golpes e de cenários) acabam sendo reutilizados à exaustão. Fato esse que pode ser relevado pela época em que o anime foi produzido, na qual era mais fácil (e rentável) repetir cenas já animadas pelo fato das animações japonesas para TV não receberem um orçamento muito grande.
A trilha sonora do anime não é algo que se destaca, mas que mantém a sua função de deixar os momentos mais interessantes. Porém, as aberturas “Ai wo Torimodose” e “Silent Survivor” não só conseguem transmitir o clima da série, como também conseguem se destacar do resto da obra. O mesmo não se pode das endings, que são meio chatas (principalmente a “Yuria… Eien ni”, cujo vocal feminino é bem desafinado).
Enfim, Hokuto no Ken é um anime que vale a pena ser visto não só pelo fato dele ser um grande marco para o gênero seinen, como também por sua história deveras interessante e a sua mensagem anti-guerra sempre presente.
Roteiro: 8,5
Visual: 6,0
Desenvolvimento: 9,0
Som: 8,0
Final: 8,5
Curiosidades:
. A banda Crystal King era uma banda que tinha ficado meio famosa por causa do single “Daitokai” para um comercial, mas ficou famosa mesmo com as músicas da primeira abertura e do primeiro encerramento do anime. Em 2004, a banda se separou e a vocalista Masayuki Tanaka investiu em carreiro solo (ela é responsável pela música-tema de Kamen Rider Kuuga e da música “Katamari on the Rocks, do jogo de PS2 Katamari Damacy), o vocalista Monsieur Yoshisaki adotou o nome da banda como pseudônimo e também investiu na carreira solo (ele que fez a versão especial de “Ai wo Torimodose” para a série de filmes de HNK) e o resto da banda se juntou sob o nome Cross Road e de vez em quando faz alguns trabalhos com Tanaka.
. Em 6 de dezembro de 2003, a empresa E-frontier lançou no Japão o antivírus VirusKiller com o tema de Hokuto no Ken e toda vez que o antivírus, que é bem eficiente, impedia ou destruía algum arquivo malicioso, aparecia a imagem de Kenshiro na tela falando a sua célebre frase “Você já está morto”. Aparentemente, ele ainda existe e ainda conta com suporte da empresa, sendo atualizado constantemente. Só espero que ela não entre na onda de querer fazer um de Dragon Ball Z porque, além do vírus, o seu computador também iria pro saco.