RPG no Brasil Pt.1

Durante os comentários com o Daniel Holanda do site Cavaleiros das Noites Insones (http://www.cavaleirosdasnoitesinsones.com.br) sobre a “Era de Ouro” do RPG, na postagem do RPG Nacional, comecei a olhar para trás e ver o quanto de RPGs que eu já tinha jogado ou pelo menos lido a respeito na extinta Dragão Brasil, que sempre estiveram de alguma forma presente na minha vida; mesmo que não tivesse a oportunidade de jogar todos eles, tive a oportunidade de ler sobre ou ver a venda nas lojas daqui da cidade (ou em sebos ainda hoje). Então, resolvi relembrar os mais velhos e mostrar para os mais novos como o mercado brasileiro do RPG sempre esteve bem cuidado.

Apesar da preocupação dos brasileiros em fazer seus próprios produtos, criar isso na era de ouro do RPG – em que Vampiro a Máscara estava sendo lançado aqui e AD&D estava no seu auge – acabou tirando seu “brilho”; mas eles existiram, e ainda hoje é possível encontrar muitos deles perdidos em sebos por aí. Algumas, inclusive são verdadeiras relíquias para seus proprietários.

O começo do RPG no Brasil não foi algo assim tão simples como estamos acostumados hoje. Apesar de muitos sistemas nunca terem sido traduzidos para cá, conseguir eles importados ou mesmo um pdf em muitas lojas virtuais existentes, como fazemos muito hoje, é bem mais simples do que nos anos 80, sem o advento da internet. E graças a essa dificuldade que surgiu a chamada “geração xerox”: como ter um livro nessa época era praticamente impossível, importava-se um livro com um amigo e desse surgiam várias copias. Vejo algo semelhante hoje com livros já esgotados e impossíveis de se encontrar, ou mesmo com traduções feitas por fãs para serem utilizados na mesa, simplesmente para manter na coleção do Mestre. Isso perdurou durante muitos anos até o lançamento de um RPG nacional, o único até então brasileiro de fato: Tagmar, um RPG com temática medieval. Desse momento em diante, o RPG no Brasil teria dado seu primeiro passo para as traduções e criações próprias.

Tagmar (1991): Além de ser o primeiro RPG a ser criado aqui, também foi o primeiro na época a não depender de vários livros para jogá-lo, como era muito comum naquele tempo – vide o Dungeons e Dragons, que segue o modelo até hoje. Sua temática era totalmente voltada para o estilo dos escritos de Tolkien, o que lhe gerou alguns problemas, sendo acusado de cópia de D&D, vejam vocês! Mas, por seu preço acessível e por ser um produto nacional, o que tornava muito mais fácil de tê-lo em mãos naqueles dias, acabou ganhando reconhecimento e muitos jogadores. Muitos ainda jogam/conhecem/comentam dele nos dias atuais, afinal, com a falência da empresa responsável, o sistema não teve continuidade. Em 2004, vários jogadores se reuniram e tentaram trazer, com autorização dos próprios autores, o projeto Tagmar 2, tentando dar uma nova roupagem para o sistema. Aliás, compartilho aqui a frase de Vinicius Dinofre Dada, que postou nos comentários anteriores sobre o projeto, e é algo que eu comento muito e foi o motivo de ter feito essas matérias sobre RPGs no Brasil:

“Torço sempre para que o mercado possa se consolidar, eu mesmo participei do projeto TAGMAR2 como ilustrador, para dar uma força a galera, e com certeza não me arrependo, vejo os trabalhos que fiz com muita alegria, e tenho certeza de que os autores de agora estão também super felizes com seus lançamentos!”

http://www.tagmar2.com.br/

O Desafio dos Bandeirantes (1992): Se existe um sistema que eu torcia o nariz quando via na extinta Dragão Brasil e hoje tenho uma baita vontade de testar é esse jogo. Produzido pela GSA, a mesma de Tagmar, era totalmente inspirado no período do Brasil Colônia. Esse sistema usava e abusava das lendas, colocando os jogadores, sejam eles Rastreadores, Jesuítas ou Pajés, contra as muitas criaturas nativas brasileiras. Sinceridade: amo a parte de antagonistas desse livro, com seus sacis pererês, mulas-sem-cabeça, e outros que tanto ouvimos por aí. O sistema produziu 3 suplementos.

Demos Corporation (1995): Achei pouquíssimo sobre esse sistema. Nunca tive oportunidade de pôr minhas mãos nele ou mesmo ter ouvido falar; mesmo hoje em dia, na era na informação, parece ter caído no esquecimento e poucos o citam. O pouco que sei é que o sistema, produzido em uma revista, possuía regras muito complexas e tinha como objetivo jogadores se infiltrarem na corporação Demos. Jogo totalmente inspirado em espionagem.

Monstros RPG (1995): Produzido por Artur Vecchi, esse jogo tinha como objetivo jogar com monstros e fazer as maiores insanidades que sua mente de criatura descerebrada puder criar, afinal, aqui o que conta é a sátira e o humor.. A ideia inclusive é a mesma utilizada atualmente pelo RPG Malditos Goblins, produzido pela Coisinha Verde. Há algum tempo, o autor encontrou um scan de sua obra e liberou em seu site pessoal.

http://hyperespaco.wordpress.com/2010/1 … -monstros/

Millenia (1995): Mais uma da editora GSA, mas dessa vez tratando do conceito de ficção científica. Millenia se passa no futuro, quando a raça humana, após passar por anos de escravidão e guerras, tenta agora colocar as coisas nos eixos na galáxia. Seu sistema é bem o padrão da época, com classes de personagens e sistemas de tabelas; os conceitos de sociedade e estruturação eram bem aceitáveis e realistas. Infelizmente, o sistema não agradava muito no estilo abordado, a ficção cientifica, e, para o desespero da GSA, nesse ano foi lançado Vampiro a Máscara, o que ofuscou totalmente o sistema.

Arkanun RPG(1995): O RPG responsável pela avalanche de suplementos e temáticas criadas para o seu futuro sistema (Daemon), Arkanum nasceu com um propósito básico que perdurou durante muito tempo: a guerra entre criaturas sobrenaturais. Criado por Marcelo Del Debbio, Arkanum se passava na Europa Medieval, com as muitas facetas das guerras medievais por trás dos panos, como os Templários, Bruxos e Magos vivendo nas sociedades secretas, e em especial os pactos com demônios, ou anjos. O site ainda se mantem em pé e recebendo constantes materiais de fãs; muitos jogadores clamam por um retorno do sistema, não especificamente Arkanun (ou mesmo Trevas), mas com mesma temática e sistema repaginado.

Era do Caos (1997): Esse sistema, apesar de eu nunca ter posto o olhos nele pessoalmente, recordo por uma tirinha na Dragão Brasil (“Qual RPG é esse?” “Era do Caos” “E agora é sua?”). Era do Caos trata sobre um futuro próximo, muito próximo mesmo (aliás, acho que já estamos nele), em que a criminalidade e violência aumentaram absurdamente (que coisa, não?) nas grandes metrópoles e, como se não fosse suficiente, criaturas sobrenaturais existem nos bastidores para se aproveitarem ainda mais dos seres humanos. O sistema abusa de um terror/horror mais pesado, deixando para trás mesas de Arkanum e Vampiro a Máscara, segundo muitos jogadores que tiveram a oportunidade de jogar; eu, infelizmente, não tive.

http://www.akrito.com.br/caos/index.htm

Defensores de Tóquio (1998): Sim, eu sei que já falei dele, mas esse aqui não é o mesmo que citei no outro post, o famoso 3D&T. Estou falando das clássicas duas revistas tratando sobre heróis japoneses, os verdadeiros Defensores de Tóquio. Satirizando exageradamente com os famosos personagens clássicos da TV Manchete, e mais tarde de outras emissoras, D&T tinha como objetivo isso: lutar contra criaturas feitas de massinha ou destruir monstros com ataques mirabolantes que levavam meia hora para serem proferidos. Ambos traziam “classes” para darem ideias aos personagens, e varias vantagens e desvantagens que mais a frente iam constituir o sistema atual. Suas imagens internas eram com as cenas mais cômicas dos heróis. Para dar uma ideia do que esperar de uma aventura inspirada nesse sistema, tive oportunidade de jogar algumas vezes e sinto certa nostalgia de lembrar das aventuras bizarras que criava; que dá até certa vontade de tirar a revista do armário às vezes.

Bem, com isso concluímos os anos 90, com os RPGs mais clássicos que consegui lembrar ou mesmo achar um informativo sobre; se esqueci algum, dá um aviso aí embaixo, afinal é complicado, tem muitos para se lembrar e alguns nem tiveram grande repercussão. Em uma matéria futura, irei citar os RPGs no Brasil que vieram após isso e ainda não figuraram na matéria anterior, porque, sinceridade: a lista é grande e não para de crescer!

 

Esse artigo é uma colaboração de Necrokure.