A Valente Merida e as novas heroínas

Se você tivesse a chance de mudar seu destino, você mudaria?

Sou uma pessoa suspeita para falar de Valente (2012), afinal, sou uma grande fã das animações da Disney e Pixar.

O filme conta a história de uma bela princesa escocesa que deseja do fundo do seu coração ter um destino diferente ao qual se vê predestinada a seguir, mesmo que para isso precise se rebelar contra seu próprio sangue.

Aí você pode pensar: “Meu Deus, mais uma história de princesas da Disney…” mas não é tão simples assim. Não digo que foge completamente desses padrões de princesa bonita que tem um final feliz para sempre (será que ela vai ter?), mas sou só eu quem se empolga quando a protagonista foge dos padrões?

A começar, nem morena, nem loira – ela é ruiva “natural” (eu sei que Ariel também é ruiva, mas vamos combinar, ela é sereia e o cabelo é vermelho sangue… pensei mais nos padrões humanos rsrsrs)! E tem uma juba cacheada que me impressionou muito, não só pelo tamanho, mas pelo cuidado que tiveram com a animação dos cabelos. O trabalho que tiveram não foi pouco, espero ansiosamente pelo DVD com extras do making-of.

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Fico muito contente com a presença cada vez mais marcante de heroínas nas produções cinematográficas e literárias. Especialmente quando temos um conto de fadas como contexto.

Merida é primogênita do Rei (brucutu) Fergus e da Rainha (durona) Ellinor. Desde cedo, ela já mostrava interesse em atividades tidas como tipicamente masculinas, como caça e manuseio de armas. Seu presente de aniversário foi um belo arco, dado por seu pai, que, para os padrões, é impressionantemente condescendente com ela, afirmando que, antes de qualquer coisa, até mesmo de ser uma princesa, ela deve saber lutar. Já sua mãe insiste para que ela siga a educação e as tradições da família, mas permite, a contragosto, os hobbies da filha (cavalgar, atirar…).

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O reino escocês é rodeado de magia, mas são poucos que ainda acreditam nisso e as lendas estão aí para nos ensinar lições, como bem diz Ellinor. E é em torno dessa magia que o caminho de Merida vai ser trilhado, com muitos percalços, para que no final a maior das lições seja aprendida.

Não me cabe dar maiores detalhes do plot. Todos os personagens são cativantes, o cenário é impecável e o enredo encantador. Mas vale chamar atenção para alguns aspectos que acabei por relacionar, depois de passada a empolgação de ter assistido o filme.

O primeiro ponto foi o arco. Sei que o projeto de Valente já corria há algum tempo, que ficou parado e demorou para ser finalizado, mas me remeteu a outra arqueira habilidosa: Katniss Everdeen (Jogos Vorazes, 2012). Se existe alguma relação realmente não sei, mas foi impossível não compará-las, tanto pela arma usada, quanto pela personalidade forte e determinação. O segundo, foi essa reformulação do conto de fadas, com um apelo feminino fortíssimo que nos leva a pensar na posição da mulher na sociedade, que vi também na produção de Penelope (2006), cuja premissa traz uma jovem amaldiçoada que decide lutar por sua liberdade e romper com os laços que a sufocavam. Agora, as princesas/ heroínas não precisam esperar pelo príncipe encantado para salvá-las do perigo e lhes dar, no casamento, um final feliz para sempre.

Por que aprender a administrar uma casa, treinar seus dotes incansavelmente e esperar por um casamento se hoje em dia podemos estudar, trabalhar e ir à luta, trilhar o destino que nós mesmas escolhemos? “Ok, essa é uma linda animação e não quero me preocupar com questões além do filme”, vocês podem me dizer. Podem também achar que estou catando cabelo em cabeça de ovo, mas fico muito contente com essa virada feminina nos filmes mais atuais, e coloco muita expectativa nas próximas gerações.

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No mais, para quem curte um bom filme, com bom enredo e lindos traços, Valente está mais do que recomendado! Merida e sua família são apaixonantes, e eu gostaria, sinceramente, de um segundo filme com ela, para saber o que acontece depois!

P.S.: para o cabelo de Merida foram esculpidas 1500 curvas individuais, com pontos distintos na dimensão 3D, que foram programados para saltar e interagir uns com os outros por um novo software criado pela Pixar. E outro software foi criado para dar um movimento mais realista, reagindo aos movimentos de personagens e ambientes.

Para mais informações sobre esses detalhes técnicos, consulte a matéria de Alexandra Cheney no The Wall Street Journal (em inglês).

E não deixem de visitar o site oficial para conferir mais vídeos e imagens!