O Caçador de Sombras – Capítulo II: Aodh(parte II)

         

Fala pessoal! Aqui é o Pedro Borges trazendo a segunda parte (de três) do capítulo II de O Caçador de Sombras. Espero que gostem, não esqueça de deixar seu comentário e tenham uma boa leitura!

Enjoy!

PS: Toda arte presente nesse trabalho é de propriedade do(s) respectivo(s) astista(s) que cederam a(s) imagem(ns) para uso neste post. Os devidos créditos estão no final do texto, para conhecer mais o trabalho do(s) artista(s) clique na(s) imagem(s) e será direcionado para a galeria do(s) mesmo(s)

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— A princípio desconfiei que você tivesse alguma coisa planejada, mas uma rota de fuga pelo esgoto?! Pra mim isso é novidade…
— Gracias
— Pelo seu sotaque você não me parece ser daqui, certo? Ousaria mais, diria que você não nasceu nesse reino, acho que nem em Gálea, estou certo?
— No. Acho mejor no começar com preguntas chico. O grandioso Frey no costuma hablar mucho, na verdad o meu tipo de trabalho no permite que yo hable mucho.
— E qual seria o seu trabalho?
— Vamos diser que yo sujo mis manos com trabajos que ninguém quer fazer.
— Entendo, e quanto ao que aconteceu lá atrás? Como a gente não morreu mesmo caindo daquela altura?
— Segredo.
— Você é um mago?
— No, estoy bem longe disso.
— Então como?!
Frey permaneceu calado, Heldorick percebeu que aquele era seu limite para perguntas, mesmo não conseguindo muitas respostas.
— Sabe, é que vendo sua atuação lá atrás eu fiquei bastante impressionado…
— Sério?! — Frey deixa escapar seu contentamento visível, mas pigarreia e retoma a postura — Digo, usted gostou?
— Sim, claro… impressionante. Diria mais, não existem muitos ladinos como você.
— Ah! Se é para um de mis fans então yo pienso que puedo abrir una exceção, porque no?! Você vê estas botas que estou usando?
Olhando agora Hel não consegue entender como não percebeu peças tão bem trabalhadas. Eram feitas um couro muito fino, as laterais repletas de ornamentos dourados que corriam do calcanhar até os joelhos, serpenteando couro acima. Na parte frontal de cada uma das botas um rubi de um vermelho muito vivo, como nunca havia visto antes, nem mesmo em nenhuma das jóias reais.
— Pois bem, estas são las botas de Leverrier.
— Leverrier?! Você quer dizer o famoso ladrão?
— Usted parece bem informado.
— Eu estudei um pouco de história… Leverrier – El gato pardo já causou muita confusão reino afora, inclusive à alta nobresa.
— Mi abuelo era meio excêntrico… Pero lo más importante é que antes de desaparecer el me concedeu estas belezinhas. Ellas absorvem impacto e evitam que yo vire patê de ladrão quando pulo de grandes alturas. E tem mais, além de me protegerem, elas armazenam la força del impacto e me permite usá-la em situaciones de necessidad.
— Como quando você chutou o barril?
— Exatamente.
— É um encantamento e tanto, gostaria de conhecer o mago responsável.
— Usted conhecerá, em breve.

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Herdaneu Longsword ou “Herdaneu sem medo” conseguiu esse apelido ainda na adolescência, quando em uma de suas famosas viagens marítimas foi o único a aceitar o desafio do capitão, de pular nas águas geladas do mar Erfeu, escalar um rochedo e dar cabo de um grupo de harpias entocadas nas rochas que à meses afundavam navios nas proximidades de Tessa.
Com apenas uma faca na mão o jovem cumpriu sua missão, não sem ganhar uma enorme cicatriz na face esquerda que desce da testa até o queixo, marcando ainda mais o seu forte semblante.
Recuperou a visão do olho esquerdo com ajuda de magia, mas optou por deixar a cicatriz, esta que se tornaria sua marca registrada.
Permaneceu no exército e cresceu no cargo por mérito próprio, de modo que aos 25 anos foi reconhecido como o melhor (e mais jovem) estrategista do reino ao neutralizar quase que instantaneamente a rebelião de Troglar no centésimo vigésimo terceiro ano da terceira era, quando um grupo orcs terroristas clamou pela posse da região da Efrásia, ao sudeste de Darkah. Na ocasião Herdaneu usou pela primeira vez uma estratégia de combate que viria a entrar para a história, “A Muralha de Herdaneu” que até hoje protege as fronteiras de Arqnat.
Hoje, Herdaneu ostenta o título de rei, conseguido após a morte de seu pai na “tragédia de Darkah”, incidente onde seu único filho, Heldorick, juntamente com o profeta que atende pelo nome de Klaus tentaram executar um golpe de estado, facilitando o ataque de um golem de tecnologia anã enviado diretamente de Khomodora. O atentado resultou na morte do rei Heremon e de duzentos e cinqüenta e seis dos mais bem treinados soldados da corte. Felizmente a carnificina foi cessada com a chegada de Herdaneu, que por sorte fazia sua visita mensal à capital Darkah.

***

— Já estamos andando a horas, falta muito para sairmos da cidade?
— Quase lá, se quando a gente pulou do palácio tivéssemos entrado nos túneis de drenagem já teríamos saído da cidade a muito tempo.
— Suponho que o acesso a esses túneis teria sido bem complicado.
— Não, teria sido mais fácil.
— O que?! Quer dizer que a gente fugiu por quarenta minutos, com metade da cidade atrás da gente por nada?!
— Não foi por “nada”. Eu tive meus motivos.
— E quais são?!
— Porque do jeito fácil não teria a menor graça né filho! Há! Há! Há! Há! Veja, chegamos.
No momento Heldorick esqueceu completamente a raiva que crescia dentro de si. Esse sentimento deu lugar a uma ansiedade de igual força, que tomava conta do seu ser. A galeria de esgoto onde estavam deu para um pequeno penhasco, nas proximidades de Darkah. Ao fim da pequena descida, numa estrada aparentemente muito pouco usada, uma carruagem espera por eles.
— E agora garoto, você vai ter as explicações que queria.

***

A noite já era intensa, mas os corredores do palácio estavam movimentados como se fosse dia. Os passos do rei Herdaneu em sua pesada armadura ecoavam em direção ao quarto onde supostamente o prisioneiro, outrora príncipe era mantido sob custódia.
— Você quer dizer que quando chegou aqui só pode ver os dois escapando pela janela?
— Sim majestade…
— Mas como é possível?! Essas são correntes de Menedo! Nenhuma lâmina forjada pelo homem poderia fazer um corte tão limpo, além do mais, elas drenam a energia do prisioneiro, gerando um estado de coma induzido. Dificilmente Heldorick poderia sair andando daqui!
— Com o perdão da palavra majestade, talvez tenhamos subestimado o poder do vosso filho…
Herdaneu respirou fundo e fechou os olhos por um instante, sua feição ficou ainda mais rígida e agora assemelhava-se a uma rocha.
— Soldado… Você sabe o que é um criatos?
— Não senhor… respondeu em voz trêmula.
— Criatos é um demônio, um dos mais poderosos que um necromante pode evocar. Ele não tem olhos, ele não possui ao menos uma face, mas enxerga em todas as direções. Suas mãos sempre portam uma lâmina que arde como brasa. Dizem que o simples toque do metal carboniza completamente o corpo da vítima, nem os ossos sobram… Essa espada soldado… É a única que se sabe ser capaz de cortar tal corrente. Você acha que meu filho tem aliança com tamanha força demoníaca soldado?!
— Não sei majestade…
— Você acha que a corrente seria falsa soldado?!
— Não sei majestade…
— Então você está encarregado dessa investigação, leve os restos da corrente com você e venha falar comigo apenas quando souber alguma coisa. Está dispensado!
— Sim senhor!
A madrugada já chegava, e a essa hora a troca de turnos acontecia, o que sempre gerava certo movimento na estalagem dos guardas e soldados, que a essa hora partiam ou chegavam de suas missões e rondas. No entanto, naquela noite em especial os alojamentos estavam desertos, toda a guarda real havia sido designada para patrulhar as ruas, trazendo assim uma maior tranquilidade aos moradores e contendo qualquer sentimento mais acalorado que pudesse surgir pela cidade.
O jovem soldado entrou no alojamento ofegante, a conversa com o rei com certeza havia sido tensa. Começou a lavar o rosto em uma bacia.
— Pelo visto a conversa com o rei foi tensa, hein, Pérodes? Cuidado para não gastar toda a água do dormitório… Ei, eu estou falando com você! Meu Deus! — Um terror mortal tomou conta do centurião. Quando o jovem acabou de secar o rosto, e virou sua face para ele, essa não ostentava olhos, boca ou nariz. Era completamente limpa.
Antes mesmo que o homem fizesse qualquer movimento a espada da criatura fez seu caminho, separando seu corpo em dois e o transformando em uma pilha de cinzas. O estranho ser se ajoelhou então, e pôs-se a esfregar as cinzas no negro metal que agora brilhava mais forte em brasa e emanava um som sinistro.
— Senhor… O garoto já não se encontra mais em cativeiro. Aguardo por novas instruções — Sua voz saia rouca através da camada de pele que cobria sua boca.
Mais uma vez a lâmina entoou o som macabro.
— Entendido.

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Agradecimentos especiais pra Livcat que sempre me ajuda na revisão e para os seguintes artistas:

Alexlinde

Stonewurks 

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O trabalho O caçador de sombras – A lenda de Heldorick de Pedro Borges foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
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