Com a chegada cada vez mais próxima do filme da Lions Gate, muito tem se falado na internet sobre a série Jogos Vorazes.
O filme homônimo, que está com a estréia marcada para o dia 23 de março, tem sido aclamado na mídia como “o novo Crepúsculo” ou ainda “o irmão mais velho de Harry Potter”. Entendo que é questão de publicidade, já que todos são voltados para o público infanto-juvenil, mas não é bem assim que acontece.
Eu acredito que uma história pode ser lida de várias formas diferentes, dependendo de cada pessoa que a lê. Eu li Harry Potter, Crepúsculo e Jogos Vorazes, e tirando a classificação de faixa etária, eles não tem nada em comum.
Em Jogos Vorazes temos um mundo distópico, num futuro não muito distante do nosso. Nesse cenário, a América do Norte não existe mais, ali foram formados doze distritos que juntos formam uma nova nação, Panem. As condições de vida em Panem não são as melhores, nem todos os distritos conseguiram se reerguer, e cada um tem uma atividade principal: mineração, agricultura, etc. Todos os distritos são comandados pelas mãos de ferro da Capital. Sua melhor forma de controle contra rebeliões ou tentativa de tomada do poder por outro distrito se chama Jogos Vorazes, criado depois da revolta do Distrito 13, que foi completamente destruído por bombas tóxicas.
Jogos Vorazes é um reality show que acontece anualmente e consiste numa disputa até a morte. Cada distrito é obrigado a enviar um menino e uma menina, com idades entre 12 e 18 anos para competir nos Jogos. Dos 24 participantes, o vencedor é o único sobrevivente.
A Capital prepara uma grande arena (em cada edição é completamente diferente uma da outra) para ser o palco dos 24 tributos. Eles são instruídos pelos antigos vencedores de seus distritos, tanto em como sobreviver aos jogos, quanto em como se portar diante da mídia. Assim como nos nossos dias, os espectadores de reality shows se afeiçoam e torcem por alguns participantes, o mesmo acontece em Panem. Os distritos, claro, torcem por um dos seus tributos. A Capital fica em verdadeira festa, um mar de apostas são feitas, e alguns dos tributos até podem ganhar patrocinadores.
A história começa na 74ª edição dos Jogos Vorazes. Na escolha dos tributos, todas as pessoas dos distritos se reúnem, e aqueles que tem idade para participar dos Jogos colocam seus nomes para o sorteio.
Katniss, a protagonista dessa narrativa, é do Distrito 12, mineração. Ela tem 16 anos e cuida da família desde que o pai morreu. Sua irmã, Prim, acabou de completar 12 anos, e vai se inscrever pela primeira vez nos Jogos. Não precisamos juntar dois mais dois para saber que Prim vai ser a sorteada. Entretanto, a história realmente começa quando Katniss se oferece como voluntária no lugar da irmã, algo surpreendente para todos.
O outro tributo é escolhido. Peeta, o filho do padeiro. Ele já ajudou Katniss uma vez quando eram crianças, mas nunca tiveram contato além disso. Agora eles precisam se unir para que o Distrito 12 vença os Jogos.
E que os Jogos comecem!
Assim que o livro de Jogos Vorazes foi lançado, muita gente pensou que se tratava de um Battle Royale. Plágio? Sem chances!
Battle Royale é um romance, que virou filme e depois virou mangá. Um caminho comum para histórias de sucesso. Eu não cheguei a ler o livro ou os mangás de BR, mas assisti ao filme e pelas pesquisas que fiz, pude perceber que não foram feitas grandes alterações no enredo para essa adaptação.
Em Battle Royalle, num futuro não muito distante, existe uma Grande República dos Países Asiáticos, que passa por alguns problemas de recessão econômica, o que teria levado os jovens a se rebelar. A rebeldia chegou a tal ponto que o governo aprovou o Ato Battle Royale, que consiste no sorteio de uma turma de alunos entre 15 e 16 anos, que são levados para uma ilha e devem se matar até sobrar apenas um.
Os alunos acordam nesta ilha e percebem que estão com uma coleira no pescoço. Oficiais do exército que estão junto com eles explicam as regras do jogo, inclusive a função da coleira (que explode se tentarem fugir ou agredir um oficial). Eles tem 3 dias para matar uns aos outros, e depois disso o vencedor pode ir para casa.
Em Battle Royale vejo muito da violência pela violência. Não acho ruim, adoro filmes sangrentos, mas para termos comparativos com Jogos Vorazes, o jogo em BR não me parece muito plausível, se querem punir a rebeldia, por que escolher turmas aleatórias e não os rebeldes? Digo, em JV o jogo é exibido para toda Panem, o que funciona como repressão geral, mas em BR ninguém sabe o que acontece, exceto o vencedor, o exercito e acho que as famílias dos mortos. O exército afirma que quer conseguir dados com isso, por que? Para que? Ninguém sabe.
Apesar das narrativas serem de pontos de vista diferentes (em JV temos Katniss como a narradora da história, logo só vemos e sabemos tudo o que ela vê e sabe), achei que o cenário de BR poderia ter sido melhor desenvolvido. O forte dos dois jogos é a pressão psicológica, o jogador quer sobreviver, mas só consegue isso com a morte dos seus colegas. Isso é bem trabalhado nos dois. Mas todos os bastidores dos jogos é um verdadeiro mistério em BR.
E ainda podemos falar do triâgulo amoroso. O maior medo dos fãs dos livros de JV é que o filme dê enfoque para um triângulo amoroso entre Katniss, Peeta e Gale (melhor amigo da protagonista, que não participa dos jogos, mas tem um papel fundamental na trama, e não é segurar o triângulo amoroso, ok?), dando a entender que o livro é apenas isso (como é o caso de Crepúsculo). Bom, li em alguns lugares que esse pode ser apontado como destaque para o diferencial entre JV e BR. Será mesmo que em BR não temos curtas doses de um triangulo amoroso? Quando Shuya promete proteger a amada do seu melhor amigo, não teríamos aí um princípio de triangulo amoroso?
Acaba que ao longo da trilogia de Jogos Vorazes temos mais que apenas um jogo de sobrevivência ou até mesmo um romance entre adolescentes. Como alguns leitores e críticos já apontaram, JV é uma crítica à sociedade sim, e faz isso muito bem usando um reality show como arma contra ela. Tanto a pobreza dos distritos mais afastados da Capital, quanto ao próprio sistema de governo ditatorial e vigilante (me lembrou o Grande Irmão de 1984 do George Orwell) e tremendamente opressor, fazem com que Panem seja quase uma previsão do nosso futuro.
A leitura da trilogia é envolvente, não é a toa que se tornou um bestseller. No Brasil foi publicada pela Editora Rocco. Se gostaram da premissa de Jogos Vorazes, não deixem de ler os livros e digam o que acharam.
Em breve farei uma resenha da trilogia, dando maiores detalhes dessa história incrível e de seus personagens. E assim que assistir o filme, venho contar tudo o que achei.
Aproveito para recomendar o site Jogos Vorazes Net, um dos mais atualizados a respeito da série, e está sempre traduzindo matérias, vídeos e fazendo promoções para os fãs. Confiram também a primeira crítica que saiu sobre o filme lá.