Originalmente intitulado Do androids dream of electric sheep? (Androides sonham com ovelhas elétricas?), Philip Dick nos conta uma história passada numa Los Angeles pós guerra, em 1992.
Publicada em 1968, no auge de conflitos políticos e econômicos que envolviam a corrida armamentista e rápido avanço tecnológico, é de se compreender essa visão caótica de um futuro não tão distante, afinal da criação até o ano narrado se passaram apenas 24 anos.
Logo no início do livro somos apresentados a Deckard e sua esposa Iran. Ela programou sua caixa de empatia para depressão por algumas horas. Deckard desaprova, tenta convencê-la a programar outra coisa, talvez assistir o programa do Buster Amigão, eles discutem. Deckard sai de seu apartamento para cuidar de sua ovelha elétrica, ninguém mais no prédio sabe que ela é artificial, afinal, desde que a poeira oriunda da Guerra Terminal tomou conta da Terra muitas espécies de animais morreram, e os animais de verdade se tornaram artigo de luxo.
Hoje é um dia incomum, Deckard foi chamado para aposentar alguns replicantes fugidos da colônia de Marte, já que o melhor caçador de androides do departamento de polícia foi hospitalizado em combate com um deles. Como Deckard descobre, esses replicantes (androides geneticamente modificados para serem mais fortes e inteligentes que os humanos, no intuito de explorar as colônias de outros planetas – já que a Terra está se tornando inóspita) fazem parte de um novo modelo da Rosen Corporation (uma das maiores empresas de replicantes atualmente), o Nexus-6.
O outro caçador perdera a missão quando foi ferido por um desses Nexus-6, que são de difícil identificação . Para não abater um humano em vez de um androide, criou-se, entre muitos testes, o Voight Kampft, que consiste numa série de perguntas de cunho psicológico para determinar as reações diante do que está sendo questionado. Por não terem empatia com animais e outros humanos, não conseguem passar no teste. E é com esse teste em mãos que Deckard vai à sede da Rosen Corporation para testar um desses novos modelos e um humano. Ai conhecemos Rachel, uma Nexus-6 com um diferencial, pois recebeu um implante de memória de uma parente do sr. Rosen, o que torna ainda mais difícil achar um resultado, já que a simulação de emoções está ligada à memória.
Agora começa de fato a história do livro. Uma vez que Deckard descobre como se certificar sobre as identidades dos androides fugitivos, ele tem meios de caçá-los. O grupo original começou a se desfazer, antes de pegar a missão, dois tinham sido abatidos, restando seis para Deckard. Ele ficou particularmente feliz, pois o prêmio por cabeça era alto, o que possibilitaria a compra de um animal verdadeiro. Outros personagens interessantes aparecem, como Isidore, Wilbur Mercer, Buster Amigão, o grupo de androides que tem uma relação muito interessante entre si…
Em meio a missão nós podemos ver um pouco da condição de vida daqueles que não migraram, a maioria das pessoas queriam morar nas novas cidades nas colônias, mas a viagem era cara e muitos eram rejeitados por terem “defeitos” como problemas genéticos, demência, entre outros (em muitos dos casos resultado da exposição à poeira), o que indica o desejo de uma geração melhor, quase perfeita. Além disso, os conflitos morais de Deckard e seus questionamentos sobre a sua relação com os replicantes refletem a crise da sociedade que permaneceu. Para os fãs de cyberpunk é uma leitura obrigatória, afinal Philip K Dick é um dos precursores do gênero. Para aqueles que se interessam por ficção científica, ou que tenha apenas assistido o filme Blade Runner, dirigido por Ridley Scott.
Recomendo muitíssimo a leitura. O livro é bem escrito e envolvente, cheio de implicações sobre a sociedade da época, e das próprias experiências de Dick.
Se interessou pela história? Bem, infelizmente você não pode comprar o livro (mas tem para download). Está esgotado faz um tempo, mas tenho esperanças de que logo logo a editora Aleph, responsável pela esmagadora maioria dos títulos de Dick disponíveis nas livrarias, lance esse também.