{"id":5977,"date":"2013-01-11T08:28:10","date_gmt":"2013-01-11T11:28:10","guid":{"rendered":"http:\/\/www.putzilla.net.br\/ptz\/?p=5977"},"modified":"2013-01-11T08:28:10","modified_gmt":"2013-01-11T11:28:10","slug":"perda-de-tempo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.putzilla.net.br\/perda-de-tempo\/","title":{"rendered":"Perda de Tempo"},"content":{"rendered":"

Vivemos em uma sociedade de produ\u00e7\u00e3o e de trabalho. \u201cTempo \u00e9 dinheiro\u201d<\/strong> como diz o ditado; \u201cO Tempo Urge\u201d<\/strong> diz outro n\u00e3o t\u00e3o veiculado;\u00a0 \u201cO Tempo n\u00e3o p\u00e1ra\u201d<\/strong> j\u00e1 cantava Cazuza. Nas nossas vidas cotidianas j\u00e1 temos uma Matrix<\/em> muito mais simples do que imagin\u00e1vamos, somos ref\u00e9ns e escravos da nossa pr\u00f3pria cria\u00e7\u00e3o: o rel\u00f3gio.<\/p>\n

Estamos presos \u00e0 no\u00e7\u00e3o de segu\u00ed-lo aproveit\u00e1-lo da melhor maneira poss\u00edvel. Perder tempo n\u00e3o \u00e9 admiss\u00edvel, jog\u00e1-lo fora muito menos. Qualquer atitude que nos desvie de um caminho cuidadosamente planejado, onde ter\u00edamos somente investimentos seguros e rent\u00e1veis do nosso tempo (estudo, trabalho, leitura, produ\u00e7\u00e3o…) j\u00e1 \u00e9 digna de culpa. At\u00e9 o ato de divertir-se, hoje em dia, \u00e9 um investimento cuidadoso e consciente do nosso t\u00e3o precioso prazo de vida! \u2013 \u201cPrecisamos de f\u00e9rias!\u201d <\/em>exclama a massa, enquanto j\u00e1 deixam tudo devidamente planejado: todas as festas, todas as viagens, todas as horas descansando na rede. Deixar de ir \u00e0quela balada por mera pregui\u00e7a \u00e9 inadmiss\u00edvel: \u2013 \u201cPrecisamos aproveitar enquanto podemos!\u201d <\/em>dizemos para n\u00f3s mesmos, enquanto for\u00e7amo-nos um ritmo imposto, n\u00e3o sentido, mas idealizado.<\/p>\n

\"Rel\u00f3gio<\/a>
Ser\u00e1 que o nosso destino \u00e9 correr atr\u00e1s do tempo perdido?<\/figcaption><\/figure>\n

Toda perda de tempo na nossa sociedade \u00e9 pautada em um conceito muito simplista de ideais aliados \u00e0 produ\u00e7\u00e3o. No fim, todos n\u00f3s nos perguntamos: \u00a0\u2013 \u201cComo eu posso me tornar um indiv\u00edduo melhor, ser mais feliz, ser mais capaz?\u201d<\/em> e, a partir das respostas que obtemos, moldamos a nossa forma de aproveitar o per\u00edodo que nos \u00e9 dado.<\/p>\n

Uso como exemplo uma hipot\u00e9tica crian\u00e7a super-dotada: qual a melhor forma de instigar seu g\u00eanio, de contribuir com suas potencialidades? Dever\u00edamos coloc\u00e1-la em uma classe avan\u00e7ada, onde pudesse ter mais oportunidades de aprender, ainda que isso queira dizer menos divers\u00e3o? Ou ser\u00e1 que a colocamos em uma classe normal, com outras de sua idade, mas assim deixando de aproveitar seu enorme potencial cognitivo? Valorizamos mais sua felicidade ou sua capacidade intelectual, ou eventualmente os dois ao mesmo tempo? Ser\u00e1 que ela deve come\u00e7ar com Franc\u00eas ou Alem\u00e3o (j\u00e1 que o Ingl\u00eas \u00e9 inquestion\u00e1vel, estamos decidindo o outro idioma que ela vai aprender em paralelo). Nos del\u00edrios de aproveitamento dos ideais depositados sobre ela, esquecemos de simplesmente perguntar: \u00a0\u2013 \u201cQuerida, o que voc\u00ea gostaria de fazer hoje<\/strong>?\u201d<\/em>.<\/p>\n

At\u00e9 certo ponto, somos todos crian\u00e7as super-dotadas. Todos temos caracter\u00edsticas que podemos desenvolver, pap\u00e9is que podemos desempenhar, pessoas que podemos nos tornar. Mas todas essas perspectivas s\u00e3o exatamente isso: potencialidades, ideais que pertencem ao futuro. N\u00f3s mesmos fazemos o papel de nossos carrascos, dizendo \u2013 \u201cVoc\u00ea poderia ser t\u00e3o mais!\u201d<\/em> enquanto n\u00e3o nos permitimos aceitar o que somos, impondo expectativa sobre expectativa. Pulamos de ideal em ideal, para nunca parar de produzir e reinventar a nossa mais longa obra: n\u00f3s mesmos. Isso tudo sem sequer nos perguntar \u2013 \u201cO que eu gostaria de fazer hoje<\/strong>?\u201d<\/em>.<\/p>\n

\"Esta\u00e7\u00f5es\"<\/a>
Vivemos em um mundo marcado por ciclos de mudan\u00e7as espont\u00e2neas<\/figcaption><\/figure>\n

Veja bem: isso n\u00e3o \u00e9 exatamente algo ruim. Precisamos de metas e de objetivos, de motiva\u00e7\u00e3o e de expectativas sobre n\u00f3s mesmos. Todavia, o segredo do sucesso \u00e9 a modera\u00e7\u00e3o. Assim como precisamos de algo que nos impulsione pra frente, que coloque nossa energia para circular, tamb\u00e9m precisamos da seguran\u00e7a e da tranquilidade de uma tarde deitados na grama, olhando as n\u00favens passarem.<\/p>\n

Do ponto de vista org\u00e2nico precisamos da libera\u00e7\u00e3o de adrenalina, mas tamb\u00e9m precisa haver um momento do seu retraimento. O conceito de estresse<\/em> \u00e9 exatamente esse: o esfor\u00e7o de superar uma exig\u00eancia externa (luta ou fuga) que nunca acaba, nunca termina, nos fadigando tanto fisica como mentalmente. \u00c9 como se precis\u00e1ssemos lutar com ou fugir de um le\u00e3o desde o momento que acordamos at\u00e9 o momento que desmaiamos em exaust\u00e3o, somente para come\u00e7ar tudo de novo dia seguinte.<\/p>\n

Nossos organismos t\u00eam ritmos pr\u00f3prios, auto-gerenciados: um ciclo de expans\u00e3o e contra\u00e7\u00e3o, de trabalho e repouso, de aquecimento e resfriamento, de tens\u00e3o e relaxamento. Privar-nos de um dos lados da escala vai, mais cedo ou mais tarde, resultar em algum tipo de adoecimento (seja f\u00edsico, seja psicol\u00f3gico). Do ponto de vista do nosso corpo, n\u00e3o existe perda de tempo: existe fazer o que ele precisa nesse momento. O corpo n\u00e3o produz ideais: o corpo sente, o corpo responde.<\/p>\n

Mas nos limitar a isso seria injusto com nossa mente idealizante que precisou pensar e estruturar<\/em> o tempo ao inv\u00e9s de simplesmente sent\u00ed-lo<\/em>. Ela planeja, ela produz expectativas e nos impulsiona para algo al\u00e9m de mera sobreviv\u00eancia ou instinto. Do ponto de vista dela, s\u00f3 existe perda de tempo pois trabalha, por defini\u00e7\u00e3o, com coisas aqu\u00e9m ao momento e ao presente.<\/p>\n

\"tartarugas<\/a>
Tartarugas beb\u00eas seguem seu ritmo natural<\/figcaption><\/figure>\n

N\u00e3o cabe a n\u00f3s correr atr\u00e1s do tempo perdido, mas sim aproveitar, dar voz e for\u00e7a \u00e0s vontades e aos anseios contrastantes que nos habitam, cada qual ao seu momento. Enquanto vivermos esses sentimentos e sensa\u00e7\u00f5es ao inv\u00e9s de meramente trabalharmos pela sua eterna produ\u00e7\u00e3o, teremos uma exist\u00eancia onde \u201cperder tempo\u201d<\/em> talvez seja, algumas vezes, algo extremamente interessante. N\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel viver em tens\u00e3o, enquanto viver do relaxamento \u00e9 t\u00e3o ruim quanto. Escolher entre um ou outro \u00e9 uma solu\u00e7\u00e3o simplista<\/em> para um problema complexo:<\/em>\u00a0respeito e aceita\u00e7\u00e3o do nosso ritmo pessoal versus<\/em>\u00a0a adequa\u00e7\u00e3o e experi\u00eancia do ritmo imposto pelo ambiente.<\/p>\n

 <\/p>\n

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