{"id":5814,"date":"2012-12-17T19:53:47","date_gmt":"2012-12-17T22:53:47","guid":{"rendered":"http:\/\/www.putzilla.net.br\/ptz\/?p=5814"},"modified":"2012-12-17T19:53:47","modified_gmt":"2012-12-17T22:53:47","slug":"zumbologia-parte-iii","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.putzilla.net.br\/zumbologia-parte-iii\/","title":{"rendered":"Zumbologia – Parte III"},"content":{"rendered":"
Chegamos ent\u00e3o \u00e0 \u00faltima aula desse m\u00f3dulo sobre Zumbologia! Como visto nos nossos dois \u00faltimos encontros, temos uma ampla gama de explica\u00e7\u00f5es para o fen\u00f4meno zumbi<\/a> (Parte I) mas elas pecam no sentido de fazer um morto-vivo t\u00e9cnicamente morto<\/em>, enquanto as explica\u00e7\u00f5es mais realistas<\/a> (Parte II) tendem a trabalhar com fungos e protozo\u00e1rios que por certo tempo mant\u00e9m o hospedeiro vivo.<\/p>\n Hoje brincaremos com o conceito que, ao meu ver, \u00e9 o mais coerente de todos. O zumbi fruto de experi\u00eancias com as varia\u00e7\u00f5es dos v\u00edrus membros da fam\u00edlia Rhabdoviridae<\/em>.<\/p>\n – \u201cO virus da Raiva, Yuri<\/em>?\u201d<\/em><\/p>\n Esse mesmo! Ele \u00e9 tamb\u00e9m conhecido como Hidrofobia <\/em>por causar dem\u00eancia e por consequ\u00eancia o medo intenso de l\u00edquidos de todos os tipos. Inclusive pode causar Fotofobia<\/em> (luz) e Aerofobia<\/em> (correntes de ar), ou seja; ele \u00e9 bem prejudicial em termos psicol\u00f3gicos. E \u00e9 exatamente esse o grande diferencial dele para nossos outros par\u00e2metros de zumbifica\u00e7\u00e3o. N\u00e3o \u00e9 a a toa que v\u00e1rios filmes como 28 days later<\/em> (2002) e I am Legend <\/em>(2007) exploraram essa teoria! \u00a0Mas bem, vamos ao seu funcionamento!<\/p>\n <\/a><\/p>\n O Rabies virus <\/em><\/strong>(termo t\u00e9cnico que designa a sua esp\u00e9cie cl\u00e1ssica) \u00e9 do g\u00eanero Lyssavirus<\/em> e fam\u00edlia Rhabdoviridae, <\/em>tendo sete varia\u00e7\u00f5es principais. Ele pode infectar todos os animais de sangue quente, preferindo entre eles os mam\u00edferos: principalmente morcegos e carn\u00edvoros em geral\u00b9. \u00a0Est\u00e1 presente ao longo de toda a hist\u00f3ria da humanidade, sendo extremamente temido: h\u00e1 relatos e descri\u00e7\u00f5es sobre ele desde 2300 a.C., sendo uma das doen\u00e7as mais antigas conhecidas\u00b2 com registros na Sum\u00e9ria, Gr\u00e9cia e Egito antigos. Ser\u00e1 que \u00e9 o que deu origem a t\u00e3o numerosos e difundidos mitos de zumbis, como eu mencionei anteriormente?<\/a><\/p>\n A transmiss\u00e3o\u00a0se d\u00e1 principalmente atrav\u00e9s da saliva, no caso de receber uma mordida do animal infectado, e raramente atrav\u00e9s de arranh\u00f5es ou contato da saliva com mucosas\u00b3. Mesmo com um meio de cont\u00e1gio t\u00e3o restrito e de curto per\u00edodo (de 2 a 10 dias na incuba\u00e7\u00e3o\u00b3) ele est\u00e1 presente no mundo inteiro, tendo sido erradicado somente em ilhas como Reino Unido, Jap\u00e3o e Austr\u00e1lia, em virtude da menor taxa migrat\u00f3ria de animais selvagens.<\/p>\n Mas chega de conversa mole, vamos ao que interessa: cont\u00e1gio humano.<\/p>\n <\/a><\/p>\n A raiva ocorre em 32 a 61% dos casos de exposi\u00e7\u00e3o humana\u2074, com um per\u00edodo de incuba\u00e7\u00e3o de 20 a 90 dias (podendo ser 4 dias ou at\u00e9 6 anos) e na maioria dos casos, assintom\u00e1tica. Aqui ela come\u00e7a a atacar as c\u00e9lulas do sistema nervoso perif\u00e9rico. J\u00e1 na fase denominada Podr\u00f4mica, que dura de dois a dez dias, os sintomas come\u00e7am a aparecer: febre moderada, dores de cabe\u00e7a, dores no corpo, co\u00e7eira, formigamento, v\u00f3mitos, dor abdominal, entre outros. O bicho pega mesmo na Fase Neurol\u00f3gica Aguda (FNA).<\/p>\n “Nesta fase as altera\u00e7\u00f5es provocadas pela prolifera\u00e7\u00e3o do v\u00edrus da raiva nas estrutura\u00a0do SNC (sistema nervoso central) se intensificam, causando ansiedade, nervosismo, ins\u00f4nia, apreens\u00e3o, agita\u00e7\u00e3o, agressividade e depress\u00e3o, altera\u00e7\u00f5es do comportamento, exacerba\u00e7\u00e3o das caracter\u00edsticas pr\u00f3prias da personalidade. Muitas vezes as pessoas agressivas tornam-se mais irritadi\u00e7as e as t\u00edmidas ficam mais deprimidas.”<\/p>\n <\/p>\n Instituto Pasteur de S\u00e3o Paulo. (2009). Raiva \u2013 Aspectos Gerais e Cl\u00ednica<\/strong> (pp. 26).<\/p>\n<\/blockquote>\n \u00c9 nessa fase tamb\u00e9m que se manifestam as fobias supracitadas, fortes ao ponto de causarem convuls\u00f5es\u2074 mediante apresenta\u00e7\u00e3o do est\u00edmulo temido, acompanhado de del\u00edrio, dem\u00eancia e febre de mais de 40 graus celsius(Ibid.) at\u00e9 que, ap\u00f3s cerca de 10 dias, a pessoa morre.<\/p>\n Imagine ent\u00e3o pessoas extremamente agressivas, que v\u00e3o usar das unhas e dentes caso sintam-se amea\u00e7adas por \u00e1gua, luz ou correntes de ar, com s\u00e9rios surtos de dem\u00eancia acompanhada por alucina\u00e7\u00f5es, visto em\u00a028 Days later.<\/em><\/p>\n <\/a><\/p>\n – \u201cMas Yuri, s\u00f3 32 a 61% dos casos s\u00e3o de fato infectados! Al\u00e9m disso pacientes depressivos ficam mais depressivos!\u201d<\/em><\/p>\n Justo. Mas se estiv\u00e9ssemos falando de um surto normal de Rabies<\/em> n\u00f3s j\u00e1 estar\u00edamos vivendo no apocalipse zumb\u00ed. Expanda esse racioc\u00ednio para um super-v\u00edrus da Raiva, com uma taxa de infec\u00e7\u00e3o e sobrevida maior, aliado a um menor periodo de incuba\u00e7\u00e3o e uma dem\u00eancia e agressividades exacerbadas. Voil\u00e0<\/em>: a receita do fim do mundo!<\/p>\n Se voc\u00ea ainda est\u00e1 c\u00e9tico quanto a isso, saiba que estamos somente um neurotransmissor (serotonina) de nos tornarmos m\u00e1quinas de matar, em espec\u00edfico ao seu receptor chamado 5-HT1B.\u00a0 Segundo um experimento\u2075 feito em 1994, ratos criados sem esse receptor tornaram-se extremamente<\/em> violentos a intrusos, inclusive entre s\u00ed. Una o v\u00edrus da Raiva que se propaga no SNP e no SNC, a uma engenharia gen\u00e9tica sagaz a ponto de pegar uma carona nesse ve\u00edculo e incapacitar o trabalho dos receptores 5-HT em geral, que voc\u00ea tem um Omega Rabies<\/em> quentinho no forno, pronto para zumbificar o planeta. Por sinal, igual a cura do C\u00e2ncer como mostrada em I am Legend<\/em>.<\/p>\n <\/a><\/p>\n Conclus\u00e3o: O Rabies virus<\/em> \u00e9 mais uma das poss\u00edveis explica\u00e7\u00f5es para o apocalipse zumb\u00ed, por j\u00e1 ser um ve\u00edculo capaz de zumbificar<\/em> o hospedeiro e torn\u00e1-lo agressivo sem ter tanta engenharia gen\u00e9tica envolvida. A dificuldade aqui est\u00e1 em torn\u00e1-lo mais potente e menos mortal, e de quebra aumentar drasticamente as porcentagens de infec\u00e7\u00e3o. Mas bem, para quem produz c\u00e9lulas-tronco e trabalha com reconstru\u00e7\u00e3o neuronal, brincar com a Raiva deve ser um passeio no parque!<\/p>\n Com isso fechamos nossa pequena s\u00e9rie sobre Zumbologia e as possibilidades reais para um apocalipse zumb\u00ed. Mas o trabalho n\u00e3o acaba por aqui: a mat\u00e9ria e a discuss\u00e3o continuam na sess\u00e3o dos coment\u00e1rios! Espero por voc\u00eas, e at\u00e9 a pr\u00f3xima sess\u00e3o de estudos apocalipticos!<\/p>\n Refer\u00eancias:<\/strong><\/p>\n 1 \u2013 Xavier, S. M. (2005). Compara\u00e7\u00e3o dos m\u00e9todos de inocula\u00e7\u00e3o intracerebral em camundongos (Mus musculus<\/em>) e de inocula\u00e7\u00e3o em cultura de c\u00e9lulas BHK-21 (C13), no diagn\u00f3stico da raiva. (Tese de p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o, dispon\u00edvel para leitura e download em http:\/\/teses.icict.fiocruz.br\/lildbi\/docsonline\/get.php?id=088<\/a>);<\/p>\n 2 \u2013 Thadei, C. L. (s.d). Raiva ou Hidrofobia (dispon\u00edvel para leitura em http:\/\/www.saudeanimal.com.br\/artig175.htm<\/a>);<\/p>\n 3 \u2013 Departamento de Vigil\u00e2ncia Epidemiol\u00f3gica.\u00a0(2006). Doen\u00e7as Infecciosas e Parasit\u00e1rias: guia de bolso, 6\u00aa ed. revista, Bras\u00edlia. Minist\u00e9rio da Sa\u00fade, p.\u00a0249-254.;<\/p>\n 4 \u2013 Instituto Pasteur de S\u00e3o Paulo. (2009). Raiva \u2013 Aspectos Gerais e Cl\u00ednica. (dispon\u00edvel para leitura e download em http:\/\/www.pasteur.saude.sp.gov.br\/extras\/manual_08.pdf<\/a>);<\/p>\n 5 \u2013 Saudou, F.; Amara, D. A.; Dierich, A.; LeMeur, M.; Ramboz, S.; Segu, L.; Buhot, M. C. & Hen, R. (1994) Enchanced agressive behavior in mice lacking 5-HT1B receptor. (dispon\u00edvel para leitura em ingl\u00eas em http:\/\/www.sciencemag.org\/content\/265\/5180\/1875.abstract<\/a>);<\/p>\n <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Chegamos ent\u00e3o \u00e0 \u00faltima aula desse m\u00f3dulo sobre Zumbologia! 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