Zumbologia – Parte II

Olá caros leitores e alunos, bem-vindos à segunda parte do nossa mais nova série de aulas sobre Zumbologia! No primeiro post falamos sobre os tipos de explicações para o fenômeno zumbí e quais os motivos dele ser praticamente impossível: os zumbis estarem mortos. Dessa vez discutiremos um pouco sobre as possibilidades reais para que um Apocalipse ocorra, as características de cada ocorrência, a probabilidade e a forma do fenômeno. Lidaremos inicialmente com as teorias que envolvem Fungos e Protozoários Parasitas.

– “Mas é claro que a gente só está brincando com possibilidades né Yuri? O Apocalipse Zumbi não pode existir, não pode ser real, né??”

Na verdade é bem possível sim. Se é provável, aí é outra história. Lembrando que eu concluí o post anterior falando que Zumbis são possíveis sim, mas eles não estariam mortos. Vamos às teorias!

No carro-chefe das teorias de zumbificação passíveis de realidade estão duas figuras importantíssimas: o fungo chamado Ophicordyceps unilateralis¹ e o protozoário Toxoplasma gondii². Lembrando que ambos são parasitas reais, os explicarei separadamente.

Ophicordyceps unilateralis é um fungo parasitóide que infecta formigas e altera o seu comportamento a fim de certificar a distribuição numa área mais significativa possível, através dos seus esporos.

A infecção se dá pela seguinte maneira: os esporos do fungo entram através da pele do inseto, consumindo tecidos que não sejam vitais a ele. Depois de um tempo o parasita infecta o corpo todo, alterando as funções cerebrais de maneira desconhecida e por consequência, o comportamento. O inseto (influenciado pelo parasita) então sobe para o alto do galho de uma planta, usando das suas mandíbulas para prender-se nele³, já que agora as formigas infectadas mordem com uma força descomunal. Uma vez bem fixadas na folha ou no galho, o inseto morre e  do seu cadáver (mais especificamente da cabeça) nascem então os compostos responsáveis pela disseminação do fungo via esporos, muito similar à espécie Metarhiziopsis microspora⁴.

O impacto é o suficiente para destruir colônias inteiras, a partir de um único indivíduo infectado³. As formigas desenvolveram inclusive a habilidade de perceber quando um membro está sob o efeito do fungo, carregando-o para longe da colônia a fim de diminuir o impacto causado¹.

Já o Toxoplasma gondii não é um fungo, mas sim um protozoário supretivo supletivo feelings. Seu hospedeiro definitivo é o gato (sim, o gato doméstico) mas pode ser transportado por vários animais de sangue-quente, como pássaros, mamíferos… inclusive humanos². Ah, além disso, eu já falei que as pesquisas indicam que aproximadamente um terço (33,3%) da população mundial² pode ser hospedeira intermediária desse protozoário, podendo chegar em até 80% se considerarmos as variações na espécie⁵?

A parte mais interessante do Toxoplasma gondii é que ele também tem a capacidade de alterar o comportamento do hospedeiro, principalmente do intermediário. Nos ratos, por exemplo, ele faz com que o roedor, ao invés de ficar com medo do cheiro do seu predador natural (o gato), sinta-se atraído por ele². O parasita faz isso por interessar-se em entrar no organismo do seu hospedeiro final e concluir seu processo reprodutivo, ou seja, ele faz o rato ficar a fim de ser devorado pelo gato. Praticamente faz eles se comportarem como piriguetes quando vêem um cara com um Camaro Amarelo na porta do baile sertanejo. Ah, só pra lembrar, o ser humano também é o hospedeiro intermediário, assim como o rato.

– “Yuri!! Então…”

A resposta para a sua pergunta é sim. Há diversos casos relatados de variação de comportamento nos indivíduos infectados pelo protozoário. Há estudos que correlacionam sintomas de esquizofrenia e depressão em pacientes infectados⁵, principalmente se estiverem em período de gestação (ibid.), também há correlação positiva da influência dos anticorpos da imunoglobina G (presente no gondii) em indivíduos que cometeram violência auto-direcionada e tentativas de suicídio⁶.

Por ser um parasita inteligente, ele permanece no corpo do hospedeiro por tempo indefinido, tendo sintomas similares à gripe comum em casos agudos, podendo levar até à morte² caso não seja tratado.

Em ambos os parasitas há o efeito de controle sobre o hospedeiro. No caso do fungo ele pode dominar as reações cerebrais das formigas a ponto de controlar seus movimentos de forma integral. Já no caso do protozoário as funções de ‘medo’ são profundamente prejudicadas (já que nesse estágio, o parasita se aloja no cérebro nas áreas que controlam medo, criando cistos) e fazendo com que o hospedeiro perca o senso de auto-preservação.

Em um mundo de pesquisas farmacêuticas que algumas vezes driblam o código de ética e de governos interessados na vitória com o menor custo, fácil imaginar o que uma dessas duas fofuras parasitóides pode fazer caso submetida a uma engenharia genética com objetivos maquiavélicos. Só imaginar uma horda de pessoas perdendo totalmente o senso de auto-preservação, se jogando na frente de carros, pulando de prédios, tudo isso sem ter consciência ou controle sobre seus atos. Misturando os dois, temos também pessoas com o péssimo hábito de morder as outras, por sinal com uma força maxilar muito maior do que o esperado. Lembram-se o que eu tinha dito? Pro Apocalipse Zumbi se tornar possível, basta que você retire a variável onde o zumbi tenha que estar morto. As pessoas infectadas por esses parasitas estariam vivas, em todos os sentidos da palavra.

Já começou a ficar com medo? Mais uma informação: ambos parasitas têm sido estudados intensivamente – parte dos seus princípios ativos têm sido usados há vários anos em cosmédicos, remédios e até corante para alimentos. Eles são extremamente benéficos, caso sejam usados conscientemente…

Mas poucos sabem até que ponto a alma humana pode ser corrompida, não é?

Eu ia começar a falar sobre os vírus da família Rhabdoviridae, responsáveis pela Raiva (ou Rabies, em inglês), mas a aula já está quase acabando, ficará para outro dia! Próxima parada: Vírus da Raiva e como nosso planeta pode se tornar o cenário do filme “I am Legend” (Eu sou a Lenda, 2007).

Referências:

1 – Informações disponíveis em http://en.wikipedia.org/wiki/Ophiocordyceps_unilateralis acessado dia 18 de Outubro de 2012.

2 – Informações disponíveis em http://en.wikipedia.org/wiki/Toxoplasma_gondii acessado dia 18 de Outubro de 2012.

3 – Hughes, D. P., Andersen,  S. B., Hywel-Jones, N. L., Himaman, W., Billen, J. & Boomsma, J. (2011) Behavioral mechanisms and morphological symptoms of zombie ants dying from fungal infection. Biomed (disponível em inglês em http://www.biomedcentral.com/1472-6785/11/13).

4 – Cowles, R. S. & Vossbrinck, C. R (2008) Metarhiziopsis microspora gen. Et sp. Nov. Associated with the elongate hemlock scale. Mycologia (100, 3, 460-466) The Mycological Society of America. (disponível em inglês em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18751553).

5 – Flegr, J. (2007). Effects of Toxoplasma on Human Behavior. Schizophenia Bulletin (33, 3, 757-760) Oxford Journals (disponível em inglês em http://schizophreniabulletin.oxfordjournals.org/content/33/3/757.full).

6 – Zhang, Y., Traskman-Bendz, L., Janelidze, S. Et al. (2012). Toxoplasma gondii immunoglobin G antibodies and nonfatal suicidal self-directed violence. Journal of Clinical Psychiatry. (73, 8, 1069-1076) Pubmed (disponível em inglês em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22938818).