O Caçador de Sombras – Capítulo II: Aodh(parte I)

Fala pessoal! Primeiramente gostaria de pedir desculpas pela demora para postar o segundo capítulo, mas agora com tudo resolvido o CDS (Caçador de Sombras) será semanal =]

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Enjoy!

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II

Aodh

 

            O tom suave das vozes das crianças ecoava a toda altura por entre as paredes do quarto. “Demônios”, pensava Heldorick debaixo dos seus confortáveis lençóis de seda. O teto com pinturas suaves em tom pastel só aumentava ainda mais o seu sono.

— Que preguiça, parece até que eu levei uma surra ontem.

Sua cabeça doía, na verdade seu corpo todo doía. Tentou se levantar da cama, mas seus músculos não responderam.

— Mas o que há… Heldorick interrompeu sua fala quando levou a mão até o braço direito, e percebeu que o mesmo havia sido amputado até a altura do ombro, seu corpo estava completamente enfaixado. Sua respiração ofegante, uma dor que crescente e contínua, sentia o mundo rodar a sua volta. Ruídos vindos da janela chamaram sua atenção.

— Vamos lá, só mais um pouquito… Há! Bueno!

A janela se abre e por ela entra uma figura um tanto peculiar. Um homem de roupas curtas, práticas com bolsos e algibeiras por todo o canto. Luvas de couro e uma camiseta que se supõe que era branca. Os cabelos castanhos até o ombro e um cavanhaque fino compunham o visual do personagem tão pitoresco. “Um ladrão, era só essa que me faltava agora” pensou Heldorick de imediato.

— Oh! Acordado?! Usted deveria estar em coma hombre! Pero… bueno, acordado desse jeito usted facilita o mi trabajo.

— “Trabalho”?! O que você quer de mim?! Saia agora ou eu…

— Shhh! estás maluco?! Habla más bajo si non quisieres que los guardas escuchem nosotros.  Agora me deja tirar esse negócio de su pierna.

O garoto não havia percebido até agora, mas sua perna estava acorrentada à cama, a estranha figura pôs-se então a serrar um dos elos da corrente.

— Vai serrita, serra! Serra! Serra caramba! Sabe chiquito, até que para uma pessoa que tem o apelido de “baal de Darkah” usted no me parece mui grande cosa.

— “Baal de Darkah”?!

— No se lembra de nada mesmo?

— Lembrar de que?

— Hombre, usted no es un paciente aqui. Usted es um prisioneiro.

— Como é?

— Olha, ahora no és la mejor boa hora para hablar, mas usted tem que vir comigo! Klaus me enviou, las cosas no son mais como eram antes…

A fala do estranho invasor de sotaque diferente foi interrompida bruscamente.

— Parados! Em nome do rei Herdaneu!

— Que disparate é esse guarda?! Explique-se!

Heldorick mal terminou sua frase e teve que se esquivar da lâmina do centurião que desceu impiedosa, por sorte quebrando a corrente que o prendia à cama.

— Olha chiquito, no sé usted, mas yo voy me retirar!

— Concordo plenamente com o cavalheiro! — Respondeu Heldorick virando a cama sobre o guarda.

— Por aqui!

Os dois saltaram para a sacada, o vento soprava forte. Com uma queda daquelas a morte não poderia ser evitada nem pelo mais habilidoso dos acrobatas.

— E agora?!

— Anda! Por aqui!

 — Lá estão eles!

— Volta! Volta!

— Não tem saída! Estamos cercados!

— Podemos estar cercados… Pero ainda tenemos salida.

            Dizendo isso com um sorriso malicioso de quem tem tudo sobre controle o estranho homem tirou de sua pequena mochila uma capa vermelha e um chapéu de mesma cor, equipando-os com uma agilidade indefectível.

— Mas de onde diabos está vindo essa música?!

Um som de castanholas acompanhado de um suave dedilhar de viola inundou todo ambiente. Os guardas não sabiam ao certo porque mais não conseguiam desviar o olhar daquele irreverente personagem, que sacando um florete da cintura desferiu:

— Senhores, sinto mucho no poder me quedar, pero tengo una encomienda para entregar!

Disse isso agarrando Heldorick pela cintura e pulando em direção ao abismo. O garoto tinha agora convicção de sua morte iminente, enquanto seu corpo ganhava velocidade só conseguia pensar no quanto sua morte seria sem sentido, ali sem saber de nada, sem saber o que aconteceu com seu avô e o porquê de seu próprio pai estar tentando matá-lo. E na leveza e inconstância dos seus pensamentos, no momento que abraça sua morte… Seus pés tocaram levemente o chão.

— Usted estás bien?

— Hãn?! Perae, como a gente pulou do último andar do palácio até esse terraço e ainda estamos vivos?! São quase 20 andares de diferença!

— Chiquito, No Temas. Enquanto Frederico Endrigo Roberto Adamastor de Castela Montoia Valdez I estiver aqui, nada irá te acontecer! — Uma flecha o atinge no peito.

Você está bem?!

— Si, esto no és nada! El relógio de mi papa me protegeu — Disse tirando um relógio do bolso da sua camisa — Bastardos! Vocês vão pagar por esto!

— Não é hora de xingar a mãe dos outros, a gente ainda está um pouco alto, isso aqui deve ser o segundo andar da estalagem real, mas se eu bem conheço os arqueiros daqui para eles nós somos alvos fáceis.

— Você consegue andar?

 — Sim. O braço, ou a falta dele, incomoda e dói muito, mas nada com que eu não consiga lidar.

Duas flechas quase os acertam, uma delas passando rente à bochecha de Heldorick faz escorrer um fio de sangue.

— Cuidado!

            Agilmente, o ladino agarra um barril ao lado deles, aparando quatro flechas que faziam seu caminho em direção ao jovem fugitivo.

De baixo, quatro arqueiros em elegantes vestes azul escuro, com finos bordados a fios de ouro. Os Monóculos presos no olho esquerdo fazem  de um besouro a 10 metros um alvo fácil. Os arcos já rangiam, acomodando outra flecha. Antes mesmo que os arqueiros fizessem qualquer movimento o swashbuckler chuta o barril em suas mãos na direção dos perseguidores, derrubando dois deles.

Belo chute!

— Esta és mi pierna buena!

Contando com o próprio condicionamento físico, com a curta distância entre os prédios e com um pouco de sorte os dois fugitivos faziam seu caminho por entre os prédios, pulando de construção em construção, tentando burlar quase três dúzias de guardas que os seguiam a pé ou de cavalo.

As ataduras de Heldorick começavam a afrouxar, suas feridas a se abrir e com isso seus movimentos e reflexos ficavam cada vez mais lentos. Um salto mal calculado, um pé em falso e o jovem caiu para trás, tendo sua morte impedida simplesmente por um pedaço de atadura que por sorte se prendeu num dos ornamentos laterais do prédio deixando Hel pendurado de ponta cabeça.

— Usted és realmente divertido chico! Meio mundo atrás de nosotros e usted aí brincando de piñata!

Me tira daqui!

— Calma, calma… Acho que deixamos eles um pouco a trás.

Nossa, nessa correria eu nem me apresentei direito, afinal de contas você acabou de salvar a minha vida. Meu nome é Heldorick.

— Sem sobrenomes?

Depois que acordei de um coma sendo perseguido pelos guardas do meu pai não acho que possa mais ostentar meu título de príncipe. Pelo contrário, creio que seria até perigoso.

— Há! Há! Com certeza mi jovem!

 — Seu nome é um pouco comprido, não consegui decorar.

— Ah, si! Mi nombre és nobre demais para ser pronunciado até por pessoas mais instruídas, mas para facilitar las cosas pode me llamar de Frey.

Sim, claro… É um prazer Frey, e obrigado por salvar a minha vida.

— Sem drama chico! Mi paciência para conversa mole yo guardo para camponesas de seios fartos! Há! Há! Há! Ahora precisamos despistar de vez esses caras, pronto?!

Sim!

Nas ruas o movimento começava a diminuir e a tarde já caia, a equipe de buscas tinha agora aumentado e já perseguia os fugitivos por cerca de meia hora, sobre ordens para não fazer prisioneiros.

Lá está ele!

Balançando de um prédio a outro com a ajuda de uma corda, via-se um homem de capa vermelha. Quase que imediatamente, com a maestria esperada de um arqueiro imperial, o líder do pelotão acertou em cheio a corda que prendia o fugitivo, fazendo com que caísse sobre uma banca de frutas.

Menos um!

Não é possível retratar aqui com meras palavras o ódio que ferveu pelo sangue dos guardas quando, ao averiguar o prisioneiro “abatido”, se depararam com um barril elegantemente vestido com uma capa vermelha, na lateral os dizeres:

“Hasta la vista!”

***

Agradecimentos especiais:

Livcat pela revisão e ajuda na criação do Frey. =]

E aos seguintes artistas:

Manveruon

Geistig

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