Mars – análise do mangá

Mars (1996-2000) é, disparado, um dos mangás mais densos e mais bonitos que já li. Uma pena que não tenha ganhado uma animação até hoje – na verdade, nem publicado no Brasil foi -, mas felizmente conta com um dorama taiwanês (que ainda não assisti).

mars capa 1Para um shoujo escolar, acredito que os temas abordados foram uma escolha bastante ousada de Fuyumi Soryo, mangaká de outras obras como Eternal Sabbath, Boyfriend (ganhador do Shogakukan Manga Award de 1998) e atualmente tem trabalhado em Cesare.

A história, dividida em 15 volumes, gira em torno de Kira Aso, uma excelente artista que é extremamente introvertida, e de Rei Kanashiro, um playboy que está tentando ingressar na carreira de piloto de motos. O primeiro encontro deles se dá na rua, quando Rei pergunta para a então desconhecida Kira o caminho para o hospital. Sem dizer uma palavra sequer, Kira desenha um mapa em uma folha e o entrega. O que Rei vem descobrir depois é que no verso havia um esboço de uma mãe e uma criança.

Posteriormente eles se encontram mais uma vez, só que agora eles são estudantes da mesma escola. Rei tem um comportamento bastante “condenável”, fica com várias garotas, não se importando com nenhuma delas, como também é um aluno absolutamente relapso. Kira é boa aluna, mas é tão na dela que podemos considerar aí um sério problema de sociabilidade, especialmente no que tange o sexo masculino.

mars 001Em uma situação bastante constrangedora entre Kira e um professor, Rei, que testemunhou tudo, resolve proteger Kira e ainda ser seu modelo para as aulas de artes (algo que muitas meninas já tentaram antes, mas que nunca conseguiram), desde que ela lhe dê aquele esboço que estava no verso do mapa, só que finalizado. Com isso se inicia a delicada relação desses dois, cujo passado trágico de cada um torna tudo mais complicado.

Rei tinha um irmão gêmeo que cometeu suicídio há relativamente pouco tempo, sem qualquer motivo aparente. Além disso, ele não consegue se relacionar bem com o pai, que é um grande empresário que deseja que o filho siga a carreira e dê continuidade aos negócios, não se importando que a escolha do filho seja a pista de corrida – aliás, ele é terminantemente contra, e tem bons motivos para isso. E se não bastasse isso, ainda há um mistério em torno da morte da sua mãe, uma vez que ele pouco se recorda de sua primeira infância.

Kira também não tem um passado animador. Seu pai biológico falecera quando ela ainda era nova, e sua mãe teve um segundo casamento que foi “muito bom” enquanto durou. As aspas estão aí porque o homem decente e respeitado no trabalho e na comunidade é um verdadeiro canalha (não direi o motivo porque descobrir junto com Rei traz uma revolta genuína no leitor).

Como é de se esperar, afinal isso aqui é um shoujo, os protagonistas acabam se relacionando amorosamente, apesar de todos os empecilhos. E são muitos, pode acreditar.

mars destaque

Mas o mais interessante é que tudo é muito maduro. Nenhum mimimi é desprovido de razão. São adolescentes problemáticos sim, mas eles tem motivos por trás da instabilidade emocional. E sabe o melhor de tudo? Eles aprendem com os problemas. Brigam, se afastam, voltam a se aproximar, mas o sentimento que os uniu é forte o bastante par que ambos se ajudem a enfrentar os traumas.

Para um shoujo escolar, um enredo que envolve estupro, suicídio, depressão, pedofilia e psicopatia, Mars é um dos mangás mais pesados que já li – e olha que comecei a ler Berserk, que apesar de ser carregado, é uma história de fantasia, o contrário da verossimilhança proporcionada por Mars.

Uma história linda, de crescimento e superação, é uma ótima pedida para quem está procurando algo diferente para ler. Mais do que recomendado!